
Resolvi acompanhar o frisson. Volta e meia, aparece algum filme ou série que repentinamente tomam de assalto as redes sociais e você precisa tomar cuidado pra não ler/ouvir algum spoiler acidental, saber da trama toda sem nem mesmo saber o nome da atração! Mas tá aí, terminei de assistir 13 Reasons Why, série original da Netflix. Em tempo, a série é baseada num livro homônimo, lançado em 2007.
Ela conta a história de uma menina que se suicida e deixa treze fitas cassete, explicando quem/quais foram as treze razões pelas quais ela escolheu tirar a própria vida (se não viu a série, fique tranquilo, isto é contado logo nos primeiros 10 minutos do primeiro episódio), e o contexto onde se passa essa história é um colégio americano típico. Os personagens estão nos seus 16-18 anos (High School americana, tipo nosso Ensino Médio). Já dá para notar de antemão que é uma época da vida onde tudo tende a tomar uma proporção maior – os dramas, as angústias, os relacionamentos e seus meandros, os sonhos… Tudo isso é potencializado nessa fase. E ao jogar luz sobre os dramas de um grupo de adolescentes e suas consequências – que podem ser nefastas – é possível perceber algo que é tão óbvio no mundo, que chega a revoltar por não fazermos muita coisa para remediar: o mundo está doente.
Pois as relações humanas estão doentes. Porque as pessoas estão doentes.
Calma, ainda existe coisa boa no mundo. Mas falando desta história, que é ficção, mas também é bastante verossímil, faz-se necessário comentar e trabalhar esta questão: nós estamos vivendo relações doentes. Embora a série trate de um problema bem sério que é a depressão, esta falta nas relações começa a se manifestar em situações bem menos perceptíveis.
Situações simples do nosso dia-a-dia como pequenas decepções, um “bom dia” não respondido, coisas corriqueiras podem afetar muito negativamente as pessoas. Por que isso acontece? Creio que, apesar de ter a certeza de que não somos simplesmente um produto do ambiente onde vivemos, esse mesmo ambiente influencia muito as nossas vidas. E o ambiente é formado por uma infinidade de pessoas, histórias, relações entre elas… são muitas variáveis pra se levar em conta, e isso torna o cálculo impossível. Não é nem um pouco efetivo ficar tentando calcular os porquês de uma pessoa reagir tão mal a uma “zoeira” num nível, digamos, quase acadêmico. Cair na armadilha de uma análise impessoal é um risco enorme nesses casos – e como a série trata muito a questão do bullying e suas consequências, tratar o problema como algo abstrato (lidar com o ato e não diretamente com a pessoa que é vítima dele) pode ser tão desumano quanto “zoar” alguém por algo. Em outras palavras, pensamentos como “ele que leve na brincadeira”, “ninguém mandou ser tão melindroso(a)”, e coisas assim, são um risco que podem nos levar a fechar os olhos para situações mais graves.
Enxergar na protagonista situações do nosso dia-a-dia é bem fácil. E são coisas que a princípio parecem bobeira mesmo. Não vou detalhar pra não dar aquele famoso spoiler (que condeno!), mas posso dizer sem medo que a lição que fica depois de assistir a todos os dramas, cenas fortes, lágrimas, é que podia ter havido mais amor. Saber olhar para o outro, dedicar um tempo pra entender o que a pessoa está falando em vez de se preocupar em bolar uma resposta sem nem ouvi-la direito, pensar no que a pessoa falou, comunicou, estar atento àquele olhar estranho que o amigo deu quando falou “tá tudo bem, relaxa”… Isso tudo é amor, isso tudo é remédio pras nossas relações doentes que, se não tratadas, podem morrer, ainda que não fisicamente.
Vários blogs e veículos de mídia nos últimos dias tem demonstrado alguma preocupação com o impacto que 13 Reasons Why pode causar nas pessoas que tem alguma tendência depressiva ou a comportamentos similares, ou até quem já vivenciou algo assim. É uma preocupação bem válida, visto que a arte pode influenciar nossas vidas de maneira bem profunda. Alguns episódios inclusive têm um aviso no início, informando sobre cenas e temas fortes, e recomendando cuidado ao assistir. Mas mesmo com essas ressalvas, creio que vale a pena aprofundar-se no tema, e buscar um entendimento melhor das coisas, dos outros, e de si mesmo.
13 Reasons Why é bem sucedida em demonstrar que atos têm consequências além das externas, além das óbvias. Simples omissões, faltas de cuidado com o que ouvimos ou notamos, ou palavras desmedidas na hora errada podem deixar marcas nas almas dos que nos cercam – colegas de classe, amigos, namorados (as), familiares. E, por mais que pareça extremo dizer isso, é importante manter na mente que as pessoas não duram pra sempre – qual a marca que eu quero deixar em quem passa pela minha vida?
“Mais amor, por favor”, quem nunca leu/viu/ouviu algo assim? E sim, isso pode salvar vidas! Mas só se sair do papel e da postagem no Facebook e virar um gesto concreto. Para alguns casos, perceber um problema deve acompanhar o encaminhamento para algum especialista. Mas para todos que convivemos, precisamos de mais empatia, mais mãos amigas, mais sorriso, mais bom dia pra você também. Mais… amor, por favor.