É, Copa Bridgestone! É, Copa Perdigão, isso mesmo! Nunca ouviu falar? Claro que já! Provavelmente pelos nomes “Libertadores” e “do Brasil”, respectivamente. Aqueles nomes, antes citados, são seus novos nomes do meio, registrado em um cartório que torcedor nenhum reconhece e legitima, o patrocínio. É, eles não se contentaram com o justo espaço das placas à beira do campo. Nem com a poluição de nossos “mantos sagrados”. Querem agora nomear os nossos mais tradicionais campeonatos. Mas vem cá, já viu algum torcedor chamar os campeonatos assim? A indústria, que nunca teve lá muito senso do absurdo, agora perdeu também o do ridículo, querendo fazer-nos consumir quase que compulsoriamente suas marcas quando o que procuramos é o nosso sadio lazer e a nossa mais louca paixão nacional.
Já imaginou seu time com uma “marca” no nome? “Clube de Regatas e Automóveis Pegeout-Flamengo”. “FlormineC…” Perdão, é o hábito… “Fluminense-Unimed Football and Health Club”. Ou, o meu favorito, “Botafogo-Guaraviton de Futebol, Regatas e Sucos”. Absurdo? Impossível? Fãs de futebol provavelmente conhecem o suficiente de futsal pra saber que o clube onde jogou quase toda carreira o maior jogador de salão de todos os tempos, Falcão, chama-se Malwee-Jaraguá, nome que muito ouvia e muito demorei a saber ser uma conjugação de uma marca de roupas (Malwee) com a cidade sede do clube. Temo que haja de chegar o dia em que a moda passe pelo absurdo de invadir o nome dos clubes e chegue a sua horrenda apoteose de mudar, concretamente, pois já o faz de outras maneiras, a identidade de jogadores (pessoas!). Já pensou em alguém indo ao estádio gritar: “Vai Neymar Lupo jr!”. Ou gritar para a televisão (é, nós fazemos isso): “Esse Cristiano Nike Ronaldo joga muito!” ou “Esse Lionel Adidas Messi é craque!”
E falar de futebol nesta época é falar de “Copa da FIFA” ou (riam comigo) “Copa da Globo”, como os narradores, comentaristas e jornalistas dessa emissora nos querem fazer chamar a nossa querida, e ainda, Copa do Mundo ou, carinhosamente, “Copa”. Se os preços dos estádios (ingressos e produtos) ou o excesso publictário, não sei dizer o que é mais abusivo. Só sei que no ritmo que vão as coisas, em breve assistiremos duas horas de propagandas para cada hora de partida e em algumas décadas veremos a FIFA organizar copas sem futebol, é, sem futebol: Nos cobrarão ingressos ou nos farão assistir na TV a jogadores desfilando marcas e fazendo algumas embaixadas: um jeito de mostrar chuterias ultramodernas (e cada vez mais feias, diga-se) e fingir que ali se joga alguma coisa com os pés. Preciso dizer para não parecer pessimista demais: esta está sendo uma copa bem jogada: alta média de gols, partidas memoráveis, grandes equipes e destaques individuais, enredos de revanches e superações que conferem a ela tom de história épica. Vejo nisso que ainda há futebol e que ele, como na essência do seu jogo, não se deixa vencer facilmente. Mas para vê-lo, estão nos cobrando, no mínimo, paciência para encontrá-lo em meio a um tanto mais de coisas pouco esportivas, muito “financeiras”, eu diria.
Futebol nunca(!) se tratou de dinheiro. Grandes jogadores de décadas atrás vivem hoje com a renda de aposentados comuns. Fora os dois ou três craques do time, todos ganhavam por jogo! Hoje, fazem-se rankings sobre os jogadores contando seus gols, suas assistências, seus jogos e seus preços e salários! O que isso diz sobre um jogador? Nada! A seleção tem os dois mais caros zagueiros da história do futebol que não são, nem de longe, os dois melhores zagueiros da história. O futebol, no Brasil, sempre tratou de representar um sentimento nacional, de ser “a pátria de chuteiras”. Os estádios não eram lugar de consumo, ou de lucro, mas lugar onde o povo consagrava heróis como os das páginas das grandes histórias, mas ali ao alcance dos olhos e por vezes dos abraços. Irritava-se e divertia-se e, no fim, ia para casa com a alegria de ter escolhido o lado vitorioso ou a esperança de que seu lado seja o vencedor da próxima vez.
Sou fã de futebol, torcedor e me arrisco às peladas. E aqueles que não o são ou fazem talvez não entendam o sentimento que expressarei, mas digo desse esporte o que muita vezes cantei restritamente sobre meu clube: “Eu teria um desgosto profundo se faltasse o futebol no mundo.” Qualquer garoto que tenha crescido em um campo de pelada com os amigos e/ou tenha acompanhado as campanhas do seu time do coração pelos campeonatos a fora sabe que trata-se muito mais do que de dinheiro, ou mesmo de vitória ou derrota, etc. Futebol educa! Trata-se de aprendizado, de amizade, de alegria e de fazer parte de um grupo, uma comunidade, algo maior que você, afinal, como se diz aos meninos “fominhas”: “futebol é coletivo”. Como diz o Coringa num dos filmes mais recentes do Batman: “Não é pelo dinheiro, é pra passar uma mensagem.” E, resume melhor o mestre da crônica que eu, é esta:
“O futebol profissional exige dinheiro, mas não só dinheiro. Ele implica algo mais, ou seja: implica OS TAIS VALORES GRATUITOS que conferem a um jogo, a uma pelada uma dimensão especialíssima.” Nelson Rodrigues.